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Porque a cruz foi necessária

A Cruz é necessária, isso foi revelado quando a humanidade caiu em pecado e Deus motivado pelo seu infinito amor  deu tudo para assegurar um meio de restaurar a conexão com a criatura desobediente. Por sua decisão, tornou possível ao homem encontrar o caminho de volta de onde nunca deveria ter saído. Logo, isso não é obra humana e sim Dele porque “[…] é Deus quem salva. Repetidamente no Antigo Testamento lemos Eu sou o Senhor teu Deus que te tirei da terra do Egito, e no Novo Testamento afirma-se explicitamente que a salvação não vem de nós, mas é dom de Deus” (BARKER, 2017, p. 716).

Para  entendermos a necessidade da Cruz faz-se necessário analisar alguns aspectos do pecado, sendo o mesmo um dos motivos da elaboração do plano da Salvação. Sabemos que a essência do pecado se constitui para nós um mistério não revelado, no entanto, conhecemos seus resultados pois o experimentamos em nossa vida. Barker (2017) diz que o pecado é o grande distúrbio que interrompeu o trabalho de Deus, e a salvação é a superação da alienação, interrupção, reconstrução e transformação de todas as realidades afetadas pelas forças do mal. Vemos no comentário do autor conclusões que se configuram dois aspectos do pecado e mostram o que ele causou a nós, são eles: interrupção e alienação. Ambos causaram a separação do homem de Deus. Primeiro a interrupção, onde foi interrompido o plano original do céu para com o homem recém criado. O resultado dessa interrupção levou o homem a alienação, porque brotou nele a tendência natural de fugir da presença do Senhor e o próprio ato pecaminoso do homem em si criou um abismo entre ele e Deus,  impossível de ser transposto. Podemos dizer que esses aspectos, embora insuficientes, são devastadores pois sugerem uma situação irremediável. O homem estava condenado pela santa lei de Deus e sobre ele pairava  a certeza sombria de sua morte certa. “O  Céu encheu-se de tristeza quando se compreendeu que o homem estava perdido, que o mundo que Deus criara deveria encher-se de mortais condenados à miséria, enfermidade e morte, e não haveria um meio de livramento para o transgressor”. (WHITE, 2010, p. 146). 

Satanás havia conquistado seu objetivo ao levar o homem à desobediência e sua hoste exultou por saber que ele havia entregue o domínio do mundo em suas mãos. Deus, aparentemente estava numa situação delicada e  restavam poucas alternativas. Poderia Ele cumprir sua palavra e destruir o casal e satisfazer os reclamos de Sua santa lei ou desistir de condená-los à morte e restaurar o favor que haviam perdido por desobedecer. Podemos pensar que a decisão mais sensata seria cumprir com o que havia  dito, levar o homem à morte eterna e manter seu padrão moral satisfazendo sua característica de não tolerar o pecado. Se Deus tivesse tomado qualquer uma dessas decisões, Satanás estaria certo de que havia ganho a controvérsia, porque em ambos os casos ele acharia razão para acusá-lo.  Em suma, se Deus restaura o favor do homem voltando atrás a Sua palavra teria sido acusado de mentiroso e se houvesse  destruído o homem teria sido acusado de injusto. Como Ele poderia agir sem manchar sua integridade? White (2010, p. 149) comenta:

Vi o adorável Jesus e contemplei uma expressão de simpatia e tristeza em Seu rosto. Logo eu O vi aproximar-Se da luz extraordinariamente brilhante que cercava o Pai. Disse meu anjo assistente: Ele está em conversa íntima com o Pai. A ansiedade dos anjos parecia ser intensa, enquanto Jesus Se comunicava com Seu Pai. Três vezes foi encerrado pela luz gloriosa que havia em redor do Pai; na terceira vez, Ele veio de Seu Pai, e podia ser visto. Seu semblante estava calmo, livre de toda perplexidade e inquietação, e resplandecia de benevolência e amabilidade, tais como não podem exprimir as palavras. Fez então saber ao exército angelical que um meio de livramento fora estabelecido para o homem perdido. Dissera-lhes que estivera a pleitear com Seu Pai, oferecera-Se para dar Sua vida como resgate e tomar sobre Si a sentença de morte, a fim de que por meio dEle o homem pudesse encontrar perdão; que, pelos méritos de Seu sangue, e obediência à lei divina, ele poderia ter o favor de Deus, e ser trazido para o belo jardim e comer do fruto da árvore da vida. 

A mesma autora comenta que na cruz a justiça e misericórdia se uniram. Contemplando a cena Paulo escreve: “a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”. (2Co 5.19) e Barker (2007) complementa, Deus estava superando e reconstruindo as realidades desastrosas que o mal havia causado. “A Escritura ensina que, conforme o plano de Deus, Cristo teve de sofrer, morrer e ressuscitar dos mortos. Ela expressa a necessidade divina na expressão “ter de“. (KISTEMAKER, 2016, p. 157).

Deus o Pai superou todas as expectativas quando entregou  seu Filho a morte em lugar do homem. Entrou em concílio com o Filho e ambos decidem revelar as suas criaturas o que haveria de fazer para solucionar o problema e ao invés de horror pelo que teria de enfrentar, o coração de Cristo se encheu de alegria, regozijo e esperança pois sabia que haveria de trazer de volta suas amadas criaturas ao favor divino. Satanás nunca poderia imaginar tamanho altruísmo e desprendimento porque nem ele mesmo sabia o que era abnegação e serviço por ser egoísta e desconsiderado, características que causaram sua ruína. 

“O homem, por sua apostasia, havendo perdido o direito ao favor divino, perdeu também a imagem divina e, envolvido em pecado e miséria, teria perecido nesse estado não houvera Deus providenciado um plano de salvação”. (HODGE, 2001, p. 748). Deus não só superou, mas também estava construindo uma ponte que iria restaurar o acesso do homem a Ele. A cruz que Cristo suportou não só construiu, mas também possibilitou ao homem ser restaurado a imagem divina e de seu estado de decadência para o estado de santo às vistas de Deus. Como se vê, isso é dom de Deus enviado do céu aos homens e nada do que ele possa fazer terá alguma contribuição neste processo, “a salvação tem origem em Deus e não no homem. Apesar de Paulo exortar os Filipenses a desenvolverem sua salvação com temor e tremor, ele contudo acrescenta que Deus trabalha por intermédio deles para realizar o seu propósito”. (Fp 2.12–13) (KISTEMAKER, 2016, p. 157).

A esta altura já podemos imaginar porque foi tão grande a condescendência de Deus ao dar seu Filho Unigênito para morrer como oferta pelos pecados da humanidade. Nosso criador agiu como um pai que conhecendo a situação de saúde critica de seu filho ainda no ventre é dado a ele a opção de abortar a criança porque ao nascer viverá o resto da vida vegetando numa situação miserável, mas ao pensamento de que irá, pelo oborto, ficar separado do seu filho decide deixá-lo nascer e seu amor se mostra maior do que  o problema de saúde do filho, problema este que o impedirá de ser o que pai gostaria. Assim agiu Deus quando permitiu que o homem viesse a existência, mesmo em sua onisciência saber que o projeto fracassaria, foi permitido a nós existirmos, pelo o que João diz “nos amamos porque ele nos amou primeiro” e desde dos tempos eternos já havia elaborado seu plano de resgate, de cura da doença do pecado que um dia surgiria no universo. “A história do grande conflito entre o bem e o mal, desde o tempo em que a princípio se iniciou no Céu até o final da rebelião e extirpação total do pecado, é também uma demonstração do imutável amor de Deus”. (WHITE, 2015, p.33). Bancroft diz que: 

É razoável acreditar-se que a morte de Cristo era necessária, pois doutro modo Deus Pai jamais teria sujeitado Seu Filho muito amado ao tremendo suplício da Cruz. Pois, se o Filho veio em resposta a um apaixonado amor remidor, veio, igualmente, em obediência filia, pois foi enviado pelo Pai, que preparou para Ele um corpo para Seu sacrifício sacerdotal (Hb 10:5–9). O próprio Jesus Cristo refere-se à Sua morte como necessidade. Diz Ele: E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. (Jo 3:14, 15).

Por  isso podemos dizer que a Cruz foi necessária porque foi o momento oportuno de Deus provar seu amor e que sempre esteve certo. Mostrar que sua lei pode ser guardada e traz liberdade a todas as criaturas do universo. Aproveitar esse momento não foi nada fácil para o Deus do céu que doou tudo e não reteve nada porque assim era necessário “a morte de Cristo sobre a cruz garantiu a destruição daquele que tem o poder da morte, o qual foi o originador do pecado. Quando Satanás for destruído, não haverá ninguém para tentar para o mal; a expiação jamais precisará ser repetida; e nenhum perigo haverá de outra rebelião no universo de Deus”. (WHITE, 1989) a mesma autora escreve que é conveniente que Aquele que criou todas as coisas, salvasse os pecadores pelo sangue do Cordeiro.

“Embora imensurável pela mente finita, ambas, a razão e a revelação, asseveram que a penalidade pelo pecado não é mais do que aquilo que a santidade de Deus exige. Ela é a expressa autoridade judicial de Deus. É aquilo que Cristo satisfez”. (CHAFER, 2013, p.129-130).

Por fim, é interessante reafirmarmos que a cruz sempre esteve nos planos de Deus e Ele decidiu pagar o preço da liberdade concedida a suas criaturas. Sua decisão custou tudo que o céu tinha de mais precioso e puro. “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos”. (Jo 15.13)

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